quarta-feira, 3 de novembro de 2010

“Sê plural como o universo!”


O verso que dá título a este post é de Fernando Pessoa. Tema e inspiração.

Informação: 1317 volumes em oito idiomas, da biblioteca particular de Fernando Pessoa, inclusive manuscritos, foram digitalizados. Isso além de assinaturas, dedicatórias, anotações em margens de livros, estudos e recortes de jornais colecionados pelo poeta. Tudo está disponível no site da Casa Fernando Pessoa, de Portugal.

Pessoa marcou, por exemplo, as seguintes palavras na biografia de John Keats: «O poeta é a coisa menos poética de toda a existência porque não tem identidade; ele está continuamente no lugar de outro, preenchendo outro corpo».

E escreveu Eu sou uma Antologia:

Eu sou uma antologia.
‘Screvo tão diversamente
Que, pouca ou muita a valia
Dos poemas, ninguém diria
Que o poeta é um somente.

Assim deve ser — qualquer,
Enfim porque já o seja —
Pode ser um, porque o é.
O poeta deve ser
Mais do que um, para poder.

Depois para si o poeta
Deve ser poeta também.
Se ele não tem a completa
Diversidade
Não é poeta, é só alguém…

Eu, graças a Deus, não tenho
Nenhuma individualidade.
Sou como o mundo.

Curiosidades… Muitas…
O site oferece mais: escritos de outros autores portugueses. Experimente clicar na aba Banco de Poesia.

Quem gosta de Saramago, por exemplo, já leu Adivinhas?

Quem se dá quem se recusa
Quem procura quem alcança
Quem defende quem acusa
Quem se gasta quem descansa

Quem faz nós quem os desata
Quem morre quem ressuscita
Quem dá a vida quem mata
Quem duvida e acredita 

Quem afirma quem desdiz
Quem se arrepende quem não
Quem é feliz infeliz
Quem é quem é coração

E quem conhece Manuel Maria l' Hedoux de Barbosa du Bocage? Pois é mesmo Bocage, considerado o maior poeta português do século XVIII, que teve rápida passagem pelo Brasil, foi preso, acusado de ser "autor de papéis ímpios e sediciosos", internado em manicômio e em convento. Sua biografia está no site. Vale a leitura. Escreveu, em Retrato Próprio:

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura;
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.

A Casa Fernando Pessoa fica no Campo de Ourique, em Lisboa. A internet resolve ao menos parte do problema de quem não pode chegar até lá...