sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fado

Ela era assim. Menina de pele branca lisinha e cabelos negros, tímida, sempre de olhos baixos. Nascida e criada no interior mineiro. Vestido de babado. Sapato de boneca.

Aos 16 anos, apaixonada por um vizinho, resolveu casar. O pai se enfureceu, a mãe chorou, mas não teve remédio. O casório foi na igreja, com véu e grinalda, quase toda a cidade presente.

Os dois se mudaram para uma casa com cerca branca de madeira, jardim florido, janelas que se abriam para a rua e deixavam a brisa entrar. Até cachorro arrumaram, pra completar o cenário.

Seis meses se passaram. Num sábado, enquanto ela preparava o almoço, ele saiu de motocicleta para buscar ração logo ali pertinho. Andou dois quarteirões. Foi pego por um caminhão.

Taís virou mulher, foi dona de casa e enviuvou – tudo em menos de ano, aos 16 anos de idade.

Mudou de cidade, completou os estudos, trabalhou pesado, casou novamente. Resolveu trocar de carreira, fez novo vestibular, estudou muito e trabalhou pesado outra vez. 

Ninguém jamais poderá dizer que não lutou.

Mas seu segundo casamento não deu certo. Veio a separação. Outras mortes de pessoas queridas. 

Taís não suportou e meio que se rendeu. Voltou a Minas Gerais. Se enfurnou nos cafundós da fazenda do pai. Sem telefone. Sem endereço. Ela e seus lutos.


Sinto sua falta.

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