quinta-feira, 7 de maio de 2015

Amor de um dia

Maiara caminhava pela rua do porto como quem caminha pelo corredor de casa - estava em seu ambiente, conhecia todas as pedras do caminho, os buracos, os lugares escorregadios. Short curtinho, sandália de salto alto, batom vermelho, cabelos soltos. Queria diversão e sabia que ali encontraria algo.

Ao sair de casa ela ligou para duas amigas. Não ficava bem chegar à rua do porto sozinha. Era sempre bom ter alguém por perto, alguém que lhe ajudasse a avaliar as oportunidades que certamente surgiriam.
Filha única de mãe solteira, Maiara era a imagem da pessoa tímida. Era bonita, forte de corpo, inteligente. Mas nunca iria sozinha à rua do porto. Nunca olharia alguém diretamente nos olhos. Nunca arriscaria uma conversa com um estranho, mesmo sabendo que estava em um ambiente que existia exatamente para isso, para que as pessoas se conhecessem, para que dançassem ao som de música animada. Precisava ter suas amigas por perto, aquelas que não a abandonariam se houvesse qualquer sinal de perigo. 
Com elas Maiara caminhava como quem dança, provocativa, esperando a aproximação de alguém interessante. Mas adivinhe o que Maiara fazia quando alguém se aproximava. Ela se recolhia! Sim! Não conseguia dizer palavra. Gaguejava qualquer coisa, dava as costas e saía correndo.Tinha medo dos seus sentimentos. Medo dos outros. Vivia a fingir e a fugir.
Um dia, quando estava bem relaxada no mirante, observando o mar, alguém puxou seu cabelo. Susto. Não era hora nem lugar, e havia alguém atrás dela. Foi uma fração de segundo. Maiara virou-se e deu um tapa no rosto do rapaz. Um rapaz bonito, simpático, amigo de muitos anos, que ficou completamente sem ação. Afinal, pretendia apenas brincar. O constrangimento aconteceu de ambos os lados. Os dois enrubeceram.
_ Nunca encoste em mim sem que eu esteja vendo, ela disse.
Ele mudo. Quase roxo. Mal respirava. Segurou Maiara pela cintura, puxou-a para si e beijou-a.
_ Você está me vendo agora?
Maiara virou-se e fugiu. Nunca mais vestiu short. Nunca mais voltou à rua do porto ou ao mirante. Nunca mais viu o rapaz.
Ela iria esperar muitos anos até encontrar alguém que não lhe provocasse temor. Que fosse firme como aquele cujo toque não lhe saía do pensamento. Nunca mais encontraria quem a beijasse com aquele ímpeto, com aquele gosto doce. Um dia, muito tempo depois, se arrependeu. E descobriu que é verdade - nada tem volta nesta vida.

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