quarta-feira, 6 de maio de 2015

Sangue no paraíso

A cidade era uma loucura. Você certamente sabe o que eu quero dizer com isso. Mais carros do que ruas. Mais passageiros do que ônibus. Mais prédios do que casas. E maternidades lotadas.
Ali ela viveu toda a sua vida de quase meio século, até que um dia resolveu virar o jogo, mudar de time, puxar o freio de mão.

Não fez movimentos abruptos. Tudo foi muito bem pensado. Queria sossego. Jardim com uma aguinha corrente, quem sabe. O por de sol no final da tarde. Queria plantar uma casa num lugar assim. Cultivar sua horta. Ler seus livros sem ter de acender a luz.
Foi assim que comprou um terreno, contratou um arquiteto, discutiu possibilidades, ergueu sua casa envidraçada e plantou seu jardim florido. A casa era isolada, é verdade, mas tudo o que ela queria era silêncio.
Num final de semana, ela lia tranquilamente na sala quando ouviu o barulho de vidro se quebrando. Levantou para ver do que se tratava. Três homens estavam já dentro da sua casa.
Primeiro movimento - ela levou um tiro de espingarda.
Segundo movimento - sangrando, mas ainda em pé, ela disse aos invasores que se acalmassem, que levassem o que quisessem.
Terceiro movimento - mais um tiro atingiu seu peito e, ainda em pé e sangrando, ela continuou a falar.
Os invasores perderam a paciência. Espancaram e amarraram a dona da casa. Prenderam-na no banheiro.
Quanto essa história começou, ela queria melhoras a qualidade de sua vida. Tinha esperança de construir um futuro cor de rosa. Foi parar num hospital branco, com um avental cinza sobre o corpo roxo. Uma bala na coluna e outra no pulmão.
Esta é uma história real. Aconteceu no último final de semana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário