Esta é uma história de amor de uma vida.
Natália era uma de quatro filhas. Tinha dez irmãos. Nasceu numa vila, na Itália, durante a Primeira Guerra Mundial. Como era muito difícil ganhar dinheiro naquele vilarejo, seu pai tomou um navio em direção ao Brasil. Trabalhava o ano inteiro vendendo lenha, fazendo pão, o que fosse, e a cada doze meses voltava para visitar a mulher e os filhos que deixara na Itália. A rotina era desgastante mas tinha de ser mantida porque, afinal, filhos de italianos tinham de ser italianos.
Só o risco de ter de viver a experiência de uma nova guerra fez com que as coisas mudassem. Quando Natália, a caçula da turma, completou sete anos de idade, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, emigraram todos. O Brasil era um país pacífico, os negócios iam bem, e aquela familiona pode se acomodar tranquilamente num enorme casarão em um bairro povoado por compatriotas, na cidade de São Paulo.
Todas as crianças estudaram. Os homens foram para a faculdade. As mulheres fizeram cursos de datilografia, estenografia e secretariado, mas era só para constar. Deveriam mesmo casar e ter filhos.
Natália então ficou esperando que aparecesse um bom partido. Acontece que suas irmãs foram mais rápidas. Namoraram e casaram antes que Natália, morena alta, de sobrancelhas grossas e olhar doce, encontrasse alguém que lhe interessasse. Quando o tal fulano surgiu, sua mãe havia morrido e ficara para Natália o encargo de cuidar do velho pai.
O caso de amor foi fulminante. O homem faria qualquer coisa para viver para sempre com a doce e tímida Natália. Fazia visitas, levava presentes, insistia. Natália bem que gostava, mas não se permitia ceder à paixão. Seu destino estava traçado.
Seu pai viveu mais vinte anos. Nesse tempo, o amado de Natália casou, teve filhos, e ninguém da família voltou a ouvir seu nome.
Outros vinte anos se passaram até que Natália também viesse a falecer. Foi então que um enorme segredo veio à tona.
Duas das irmãs de Natália foram ao seu apartamento para separar o que deveria ser dado do que iria para o lixo. Exatamente às quatro horas da tarde, a campainha tocou. Elas abriram a porta e se depararam com aquele homem, a paixão de Natália de meio século atrás. Flores e bombons nas mãos.
_ Natália morreu, disse uma delas.
Ele baqueou. Elas o convidaram a entrar. Um copo d'água. Um movimento desajeitado. Sentaram.
_ Acho que devo lhes explicar porque estou aqui, ele disse. Nosso amor nunca morreu. Eu casei, tive filhos, e hoje tenho até netos, mas nunca pude esquecer Natália. Por mais de quarenta anos, todas as quartas-feiras, eu lhe trago flores e chocolate, ela faz café, e conversamos até o anoitecer.
Alguém perguntou se ele queria café. Ele recusou, disse que já ia indo, levantou-se e saiu.
As irmãs voltaram ao quarto de Natália. No guarda-roupas encontraram caixas e mais caixas com cartas, bilhetes, cartões, flores secas, daquele que fora o amor da sua vida.
Natália era uma de quatro filhas. Tinha dez irmãos. Nasceu numa vila, na Itália, durante a Primeira Guerra Mundial. Como era muito difícil ganhar dinheiro naquele vilarejo, seu pai tomou um navio em direção ao Brasil. Trabalhava o ano inteiro vendendo lenha, fazendo pão, o que fosse, e a cada doze meses voltava para visitar a mulher e os filhos que deixara na Itália. A rotina era desgastante mas tinha de ser mantida porque, afinal, filhos de italianos tinham de ser italianos.
Só o risco de ter de viver a experiência de uma nova guerra fez com que as coisas mudassem. Quando Natália, a caçula da turma, completou sete anos de idade, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, emigraram todos. O Brasil era um país pacífico, os negócios iam bem, e aquela familiona pode se acomodar tranquilamente num enorme casarão em um bairro povoado por compatriotas, na cidade de São Paulo.
Todas as crianças estudaram. Os homens foram para a faculdade. As mulheres fizeram cursos de datilografia, estenografia e secretariado, mas era só para constar. Deveriam mesmo casar e ter filhos.
Natália então ficou esperando que aparecesse um bom partido. Acontece que suas irmãs foram mais rápidas. Namoraram e casaram antes que Natália, morena alta, de sobrancelhas grossas e olhar doce, encontrasse alguém que lhe interessasse. Quando o tal fulano surgiu, sua mãe havia morrido e ficara para Natália o encargo de cuidar do velho pai.
O caso de amor foi fulminante. O homem faria qualquer coisa para viver para sempre com a doce e tímida Natália. Fazia visitas, levava presentes, insistia. Natália bem que gostava, mas não se permitia ceder à paixão. Seu destino estava traçado.
Seu pai viveu mais vinte anos. Nesse tempo, o amado de Natália casou, teve filhos, e ninguém da família voltou a ouvir seu nome.
Outros vinte anos se passaram até que Natália também viesse a falecer. Foi então que um enorme segredo veio à tona.
Duas das irmãs de Natália foram ao seu apartamento para separar o que deveria ser dado do que iria para o lixo. Exatamente às quatro horas da tarde, a campainha tocou. Elas abriram a porta e se depararam com aquele homem, a paixão de Natália de meio século atrás. Flores e bombons nas mãos.
_ Natália morreu, disse uma delas.
Ele baqueou. Elas o convidaram a entrar. Um copo d'água. Um movimento desajeitado. Sentaram.
_ Acho que devo lhes explicar porque estou aqui, ele disse. Nosso amor nunca morreu. Eu casei, tive filhos, e hoje tenho até netos, mas nunca pude esquecer Natália. Por mais de quarenta anos, todas as quartas-feiras, eu lhe trago flores e chocolate, ela faz café, e conversamos até o anoitecer.
Alguém perguntou se ele queria café. Ele recusou, disse que já ia indo, levantou-se e saiu.
As irmãs voltaram ao quarto de Natália. No guarda-roupas encontraram caixas e mais caixas com cartas, bilhetes, cartões, flores secas, daquele que fora o amor da sua vida.
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