Era uma menina mimada, nascida na segunda metade do século 20, quando as dificuldades dos tempos de guerra já eram apenas sombras nas lembranças dos mais velhos.
O país entrara numa ciranda de crescimento, o dinheiro era farto, os automóveis já eram acessíveis à classe média. Morava na cidade grande, numa casa assobradada, numa rua arborizada, e todos os seus desejos eram satisfeitos.
Sua família era do interior. A avó era dona de pensão onde se tomava banho de caneca, de água tirada do poço. O que se comia era criado e plantado no quintal.
Ainda menino, seu pai se acostumara a degolar galinhas e a matar porcos com uma única lancetada de uma faca afiada. Casou-se com uma moça delicada, educada para ser dona de casa.
Para ela, a vida era como um conto de fadas. Os vestidos eram enfeitados com rendas, usava sombrinha para passear. Nas férias de verão ia para a praia. No inverno e nos finais de semana brincava no sítio.
Adorava nadar no rio, subir em árvores, colecionar tatu bola e caramujo. À noite, no sítio, sua mãe contava a história dos três porquinhos à beira da fogueira - noite após noite a mesma história. Quando estava na cidade, depois da aula, brincava de pique e de esconde-esconde com a turma da rua.
A primeira trombada com a realidade aconteceu no sítio, no dia em que seu pai matou o coelhinho que ela vira nascer. Coelhos, para os que não sabem, são mortos com uma marretada na nuca. Depois, ficam pendurados de cabeça para baixo, para que o sangue escorra e a carne fique branca. Nessa posição são descascados e limpos. Foi assim com aquele coelho, que depois foi para a caçarola.
_ Engole o choro e come, disse o pai.
Ela continuou a chorar, não comeu, apanhou. A lição aprendida na hora - não é só homem que não chora. Meninas também devem esconder o que sentem.
O país entrara numa ciranda de crescimento, o dinheiro era farto, os automóveis já eram acessíveis à classe média. Morava na cidade grande, numa casa assobradada, numa rua arborizada, e todos os seus desejos eram satisfeitos.
Sua família era do interior. A avó era dona de pensão onde se tomava banho de caneca, de água tirada do poço. O que se comia era criado e plantado no quintal.
Ainda menino, seu pai se acostumara a degolar galinhas e a matar porcos com uma única lancetada de uma faca afiada. Casou-se com uma moça delicada, educada para ser dona de casa.
Para ela, a vida era como um conto de fadas. Os vestidos eram enfeitados com rendas, usava sombrinha para passear. Nas férias de verão ia para a praia. No inverno e nos finais de semana brincava no sítio.
Adorava nadar no rio, subir em árvores, colecionar tatu bola e caramujo. À noite, no sítio, sua mãe contava a história dos três porquinhos à beira da fogueira - noite após noite a mesma história. Quando estava na cidade, depois da aula, brincava de pique e de esconde-esconde com a turma da rua.
A primeira trombada com a realidade aconteceu no sítio, no dia em que seu pai matou o coelhinho que ela vira nascer. Coelhos, para os que não sabem, são mortos com uma marretada na nuca. Depois, ficam pendurados de cabeça para baixo, para que o sangue escorra e a carne fique branca. Nessa posição são descascados e limpos. Foi assim com aquele coelho, que depois foi para a caçarola.
_ Engole o choro e come, disse o pai.
Ela continuou a chorar, não comeu, apanhou. A lição aprendida na hora - não é só homem que não chora. Meninas também devem esconder o que sentem.
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