Maria Aurélia foi diferente de suas amiguinhas desde muito pequena. Gostava de brincar sozinha. Ficava quietinha por muito, muito tempo, observando uma coisa qualquer, uma formiga caminhando ou uma folha de árvore balançada pelo vento. Via coisas que os outros não notavam, como o reflexo do sol na parede, que formava uma letra A perfeita. Quando perdiam algo, logo pediam a Maria Aurélia que procurasse, pois ela encontrava, mesmo que fosse um cisco num carpete.
Era linda, de cabelos escuros e olhos verdes. Talvez por isso, talvez por ter sido sempre muito elogiada, fechou-se em copas. Era tímida no contato com as pessoas. Gostava de plantas e animais. Com esses entendia-se perfeitamente. Cachorros, gatos, pintinhos, todo tipo de bicho se sentia seguro ao lado de Maria Aurélia, que conversava com eles com uma voz muito mansa. Assim, quando ia pela rua, ela nunca estava só. Sempre era acompanhada por uma fileira de animais que brincavam de trançar entre suas pernas.
Com as plantas ela era um pouco mais dura. Mas foi nessa área que sua esquisitisse se revelou milagrosa.