quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Edemaciado

Edemar Cid Ferreira é nome conhecido. Chegou a presidir a Fundação Bienal de São Paulo. Promoveu exposições memoráveis, como a retrospectiva das obras de Pablo Picasso. 

Vivia num imenso bolo de noiva no bairro do Morumbi, em São Paulo, cuja construção lhe custou 85 milhões de reais. E controlava o Banco Santos, sétima maior instituição financeira privada do Brasil antes de falir e sofrer intervenção do Banco Central em 2005. 

Condenado a 21 anos de prisão no ano seguinte, Edemar foi acusado de crime contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e gestão fraudulenta; além de responder processo por outros delitos, entre eles o fomento à criação do Bank of Europe e de offshores em paraísos fiscais, a manutenção de contas correntes na Suíça sem declaração às autoridades, e a negociação de obras de arte no mercado negro nacional e internacional. Mas apenas 15 dias depois o Supremo Tribunal Federal concedeu seu pedido de liberdade.

Atualmente ele circula faceiro no high society paulistano. No último final de semana de setembro, por exemplo, era convidado em um casamento no Leopolldo Plaza. Isso dias depois de receber a notícia de que dois dos quadros de seu acervo pessoal de 12 mil peças de arte, que não foram encontrados pela polícia quando seus bens foram interditados, haviam sido descobertos num armazém de Nova York e devolvidos à Justiça brasileira pelo Immigration and Customs Enforcement's Office of Homeland Security Investigations, dos Estados Unidos.

Figures Dans Une Structure, do uruguaio Joaquín Torres García, e Modern Painting with Yellow Interweave, do americano Roy Lichtenstein, avaliados em 4 milhões de dólares, deixaram o Brasil em direção à Holanda e de lá foram embarcadas, ainda em 2006, para os Estados Unidos. 

A estimativa da Interpol é de que, entre pinturas, esculturas e antiguidades, seus bens em território norte americano somem de 20 a 30 milhões de dólares. O que restou no Brasil está sob a guarda provisória de diversos museus de São Paulo, entre eles o Museu de Arte Contemporânea e o Museu de Arte Sacra.

Edemar é dessas personagens curiosas que conseguem saltar do anonimato à fama e, mesmo na lama, não perdem a pose. Nasceu em Santos, no litoral sul de São Paulo. O pai era gerente de uma empresa de exportação e exportação. A mãe, dona de casa, era amante das artes. Estudou em colégio de padres. Foi funcionário do Banco do Brasil dos 18 aos 21 anos de idade, estudou Economia e Finanças, e aproveitou oportunidades de viajar a estudo ou trabalho para países como Canadá, Japão e Austrália.

Aos 22 anos, em 1966, largou o banco e abriu uma empresa de assessoria em comércio exterior. Teve sucesso. Dois anos depois, adquiriu em leilão público um título da Bolsa de Valores de Santos e, no ano seguinte, montou a Santos Corretora de Câmbio e Valores, que acabou se transformando no malfadado Banco Santos, com autorização para funcionar a partir de 1989.

Esse é seu lado empresário propriamente dito. A faceta colecionista nasceu quando Edemar tinha 14 anos de idade e ganhou uma coleção de moedas antigas do avô. Três anos depois, comprou seu primeiro mapa de capitanias hereditárias... E não parou mais. Fotografias, documentos históricos, objetos arqueológicos, arte plumária, há de tudo um pouco no acervo que, diga-se, não está em nome do empresário, mas de pessoas jurídicas. 

Antes de se enrolar com a Justiça, Edemar chegou a atuar como representante brasileiro junto ao World Economic Forum, em Genebra, na área de meio ambiente. É pouco? Pois aos 66 anos de idade, essa figura ainda pode aprontar muitas...

A foto da casa de Edemar Cid Ferreira está no link http://www.ligaoperaria.org.br/lutaclassista/castelos.htm

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