quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Glamour e drama à italiana

Esta é uma história italiana com certeza. Mistura nobres, negociantes, famílias com experiências glamurosas e dramáticas, e, por todo o lado, muito, muito dinheiro. Além de carros.


O rapaz da foto ao lado é Jacob Philip Elkann, chamado de Jaki por familiares e amigos. Desde abril de 2010, pouco antes de completar 35 anos de idade, assumiu a presidência do conselho do grupo Fiat. Não tem o nome Agnelli, mas é o único representante da família na direção do grupo fundado pelo clã. 


John é neto de Gianni Agnelli, filho da pintora e poeta Margherita Agnelli Elkann e do jornalista e escritor francês Alain Elkann. Nasceu em Nova York, viveu na França e na Inglaterra, e formou-se engenheiro industrial em 2000, em Turim, na Itália.

Desde 2004, o presidente da Fiat é casado com a condessa italiana Lavinia Borromeo, formada em Ciências Políticas em Milão, proveniente de uma das famílias mais antigas do país. Tem dois filhos: Leone e Oceano. Foi justamente no dia do batismo de Oceano que John anunciou a decisão de assumir a cadeira deixada por seu avô na organização da família. E provocou uma onda de sussurros mal disfarçados. Afinal, naquela sociedade tradicional, cheia de segredos e leis próprias, ninguém sabia muito bem o que esperar do neto americanizado de Gianni, um jovem com ideias próprias que, embora tenha se formado sob a tutela do avô, percorrera caminhos desconhecidos.

Na Itália republicana, os Agnelli têm o status e a tradição de uma família real. São donos da maior empresa do país. Comandam jornais, emissoras de televisão, indústrias de alimentos e de cosméticos, bancos e uma infinidade de outros empreendimentos, inclusive o clube de futebol Juventus. Mas ao longo de sua história, o clã experimentou doses amargas de infortúnio.

A saga da família começou em 13 de agosto de 1866, quando nasceu Giovanni Agnelli, filho de um casal de piemonteses de classe média. O rapaz seguiu carreira militar, casou-se e teve dois filhos: Edoardo e Aniceta. No final do século XIX, interessou-se muitíssimo por uma invenção: uma carruagem sem cavalos. Determinado, astuto e talentoso, em 1899, quatro anos antes de Henry Ford criar sua montadora nos Estados Unidos, fundou a Fabbrica Italiana di Automobili Torino, Fiat. Em 1903, a empresa montou 135 carros. Três anos depois, foram 1.149, dos quais 300 foram exportados. O crescimento prosseguiu em escala geométrica em simbiose com o Estado, como ocorreu com quase todas as grandes empresas europeias do século XX. Durante a Primeira Guerra Mundial forneceu tanques, carros e aviões ao governo. 

O herdeiro do pioneiro Giovanni chamava-se Edoardo. Morreu num acidente, decapitado por uma hélice de avião, quando seu segundo filho, Gianni Agnelli, que deveria sucedê-lo na empresa, contava apenas 14 anos de idade. Resultado: Giovanni, o fundador, permaneceu no controle da Fiat até 1945, quando faleceu. 

Durante a II Guerra Mundial a Fiat produziu armamento para os exércitos italiano e alemão – de aviões a metralhadoras – e as relações com Mussolini custaram à empresa uma espécie de intervenção que durou 20 anos. 

Para o jovem Gianni, que tomara gosto pela boemia, o afastamento da empresa não foi exatamente um transtorno. Ele era um dos playboys mais festejados dos anos 50 e 60. Namorou atrizes e princesas e atrizes de cinema como Rita Hayworth e Anita Ekberg. Tinha lá seu estilo. Usava um relógio sobre o punho das camisas e os botões de baixo desabotoados, o que acabou virando moda em seu país. Mas após sofrer um acidente de automóvel, Gianni encheu-se de brios e retomou o comando da Fiat – mostrando talento inesperado para os negócios. Passou a ser conhecido como "l'avoccato", ou "o advogado", um homem sempre pronto a influenciar os bastidores da política nacional. Em trinta anos, a montadora italiana espalhou-se pelo mundo. A família diversificou seus investimentos e perfilou-se entre as 100 mais ricas do planeta.

Gianni casou-se com uma nobre europeia, Marella Caracciolo di Castagneto, princesa napolitana que, segundo escreveu o americano Truman Capote, se fosse exposta numa vitrine da joalheria Tiffany, estaria entre as joias mais caras. O casal teve um único filho homem, Edoardo Agnelli, sujeito solitário e místico que estudou filosofia, teologia e história; passou longas temporadas na Índia e na África; e nunca se casou. Tal rebeldia levou seu pai a preterir Edoardo no momento de indicar seu sucessor no comando dos negócios da família. Em 1996, Gianni Agnelli escolheu um sobrinho, Gianni Alberto, para o posto. Mas um ano depois o rapaz morreu de câncer, aos 33 anos de idade – e o velho Gianni teve de permanecer na ativa.

Então, numa noite de novembro de 2000, Edoardo saiu de casa sem motorista e guarda-costas. Com a camisa vestida sobre o pijama, dirigiu até a "ponte dos suicidas", deixou motor ligado e faróis acesos, e saltou para a morte. Três anos depois seu pai também faleceu, aos 81 anos de idade. Deixou a esposa Marella, a filha Margherita, e mais de 150 primos, sobrinhos e sobrinhas.

Prevendo a disputa que se travaria quando a doença o levasse, Gianni cuidou de preparar o neto John Elkann para assumir o comando do Grupo. O garoto chegou a trabalhar disfarçado em linhas de montagem. Viajou por todo o planeta e visitou empresas parceiras e concorrentes. A torcida é para que ele sobreviva. Para que seu desempenho seja tão bom como o de seu avô, e que seja capaz de tirar a montadora da crise em que patina desde o início dos anos 2000.

Foram utilizadas as seguintes fontes de pesquisa para a redação deste texto: jornal La Republica, revista Business Week; e agências de notícias France Press, AP, Reuters, NewsPress.
O site de imprensa da Fiat - http://www.fiatautopress.com/

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