Às margens do rio Danúbio, no alto de um maciço rochoso de mais de 50 metros, não muito distante de Viena, fica a Abadia de Melk, uma imensa construção em tom amarelo que os turistas visitam por curiosidade arquitetônica (o conjunto é expoente do barroco austríaco), por devoção religiosa ou para espiar uma biblioteca lendária.
Compra-se o ingresso no portão da muralha, entra-se, e tudo transcorre como num passeio comum em prédios históricos da Europa. Um guia explica que o prédio foi um mosteiro, que hoje funciona como escola para meninos com acesso fechado ao público, e todos se deliciam.
Bem, mas o nome da abadia é Melk – o mesmo do mosteiro em que Umberto Eco ambientou seu livro O nome da Rosa. Tem uma superbiblioteca, que guarda inclusive uma cópia da primeira bíblia impressa por Guttemberg (a original foi vendida aos americanos para pagar a reforma do prédio após a Segunda Grande Guerra). Em seu scriptorium foram copiados centenas de manuscritos com iluminuras.
Eco esteve hospedado ali durante mais de seis meses enquanto planejava, desenhava os cenários, e escrevia seu primeiro romance. Tem de haver algo de muito especial entre aquelas paredes recentemente tombadas pela Unesco como Patrimônio da Humanidade!
A história é assim: por um século, no início dos anos 1000, o imperador bávaro Leopoldo l construiu um castelo que, cem anos depois, foi doado à ordem Beneditina para que fosse transformado num mosteiro. A abadia tornou-se um centro cultural, uma referência em termos de educação, e seus administradores prosperaram.
Entretanto, em 1683, houve uma invasão e os turcos destruíram culturas e construções da região, inclusive o antigo castelo e as construções anexas. A reconstrução teve início em 1702 – e foi aí que o barroco austríaco tomou conta do espaço. Mármores, muito ouro, afrescos... E a biblioteca com mais de 100.000 volumes e cerca de 1.800 manuscritos.
Um incêndio atingiu o monastério durante a Segunda Guerra Mundial, mas houve nova restauração (aquela paga com dólares americanos). A visita vale pena. Se não por outro motivo, pela biblioteca toda em madeira com toques dourados – mesmo que não se possa tocar nos livros, protegidos por grades. O espaço é de tirar o fôlego. São doze salas imensas, com estantes do piso ao teto (de pé direito incalculável), e livros encadernados em couro. Há até uma varanda, tipo mezanino, que propicia uma visão panorâmica do espetáculo.
Os monges beneditinos garantem que nunca houve morte inexplicada ou reuniões do Tribunal da Inquisição naquele local. O Nome da Rosa é ambientado num monastério nos Alpes Italianos. Mas que o caso narrado por Adso de Melk poderia ter se passado ali, ah isso podia!
O site do Mosteiro de Melk - http://www.stiftmelk.at/englisch/index.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário