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sábado, 16 de maio de 2015

Parideira

Num recanto perdido no interior de Angola, uma mulher sem idade, atarracada e forte, toda respingada com a terra usada para fazer tijolos de adobe destinados à sua nova casa, me recebeu com um sorriso largo.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Português, brasileiro ou africano?


   Li hoje Acordo Desortográfico e pus-me a pensar.


   Acabo de recolocar na estante Caim, do português Saramago. Sua leitura não teria o mesmo sabor se o texto estivesse em brasileiro. O mais recente livro do escritor angolano Pepetela foi editado em Portugal, lançado em Angola e está a ser traduzido antes de ser disponibilizado nas livrarias brasileiras. Uma pena.

domingo, 19 de junho de 2011

Parideira

Num recanto perdido no interior de Angola, ela, atarracada, forte, toda respingada da terra que usava para fazer tijolos de adobe com que construirá sua casa, sorria satisfeita quando eu cheguei.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O que é, o que são, o que somos

_ Quem são os que se ameaçam e não brigam? 

_ São vermes.


Adivinha do povo Ovahelelo
Fonte: O Livro das Adivinhas Angolanas, de Américo Correia de Oliveira

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Deolinda, uma heroína de Angola no Brasil


Entre 1960 e 1961 viveu no Brasil uma jovem chamada Deolinda Rodrigues Francisco de Almeida. Angolana, era estudante de Sociologia no Instituto Metodista de Ensino Superior, em Rudge Ramos, na Grande São Paulo. Hoje o prédio, tombado como Patrimônio Histórico, guarda um museu. E Deolinda é nome de praça e avenida em Luanda – é uma das Heroínas cuja coragem na luta pela Independência de Angola, entre 1961 e 1975, é lembrada no Dia da Mulher Angolana, em 2 de março.

Deolinda é a mais conhecida das Heroínas de Angola por razões compreensíveis: escreveu um diário que foi preservado; era prima de Agostinho Neto, o herói da independência angolana; seu irmão Roberto de Almeida tornou-se político de realce na Angola independente; e sua história tem ingredientes marcantes.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Poesia IV


Não basta que seja pura e justa
a nossa causa
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós.
....

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Pensador

A figura à esquerda é um dos símbolos de Angola: o Pensador, representação daquele que conhece os segredos da vida e pensa sobre o futuro da humanidade e do universo. É escultura criada pelo povo Tchokwe há mais de mil anos.

O menino da foto, estudante em Luzamba, vila da província de Lunda Norte, também é conhecido por professores e pelos colegas como Pensador. Goza do maior respeito. Aos 12 anos de idade, é observador atento do que se passa ao seu redor. E não diz palavra.
Ainda.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O mito de Lumumba


Foi Manoel Francisco, 65 anos de idade, administrador da cidade de Benguela, em Angola, quem me contou esta passagem, em janeiro de 2009.

Nascido antes do fim da colonização portuguesa, arrancado dos pais aos oito anos de idade, ele foi levado para trabalhar como criado na casa de colonos brancos.

– Servia aos senhores, mas tinha consciência da situação em que me encontrava. Portanto, quando veio a Guerra pela Independência de Angola, em 1961, sabia que tinha de lutar.

Mas mal houve guerra em Benguela e Lobito. Muitos belgas e portugueses aproveitaram a estrada de ferro para fugir rumo a Congo Brazzaville. E entre os portugueses que restaram corria um temor, quase que uma certeza. Achavam que Patrice Lumumba, líder anticolonial africano considerado imbatível, apoiaria os angolanos independentistas – e que suas forças chegariam por rio.

Pois a natureza resolveu dar uma forcinha ao mito. Uma chuvarada fez com que os rios Cavaco, Catumbela e Coporolo transbordassem. As águas arrastaram troncos de bananeira – que os portugueses confundiram com balsas. Diante da visão, houve fuga desabalada para a restinga.

Benguela e Lobito ficaram aos cuidados dos angolanos.
Vitória por W.O. ou Walkover, poder-se-ia dizer, caso se tratasse de competição esportiva ou de eleições.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Diplomacia Especial


Um senhor elegantíssimo, entrando na casa dos 80 anos de idade. Terno impecável. Fala tranquila. E histórias de arrepiar. O embaixador aposentado Ovídio de Andrade Melo, nascido em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, é pintor: artista primitivo que assina Juca seus quadros que retratam do metrô de Londres a paisagens africanas. Também é escritor: publicou “Recordações de um removedor de mofo do Itamaraty: relatos da política externa de 1948 à atualidade”.

Conversei com ele em 2009 por outro motivo. Ovídio Melo foi nosso homem no processo de independência de Angola. O trabalho que realizou resultou num marco. Em 1975, em plena guerra fria, o Brasil, sob regime militar de direita, foi o primeiro país a reconhecer a independência da República Popular de Angola e o governo de Agostinho Neto, presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola, o MPLA, apoiado pela União Soviética.

O presidente do Brasil era o general Ernesto Geisel. Seu chanceler, Azeredo da Silveira. Na política externa, por razões conjunturais e de humor de Geisel, o tom era de autonomia em relação aos Estados Unidos. Ovídio, que estava baseado em Londres, esteve na África por várias vezes, no início de 1975, para conversar com os movimentos de libertação das colônias portuguesas, em especial Angola, e conseguir espaço para que o Brasil estabelecesse uma espécie de missão diplomática antecipada, acompanhasse a transição para a independência e planejasse relações futuras entre os países.

A Representação Especial do Brasil em Luanda recebeu carta branca. O embaixador e sua esposa Ivony Melo desembarcaram no aeroporto da capital angolana em março de 1975, em meio a uma guerra-civil acirrada. A missão de contatar lideranças dos três movimentos independentistas, e analisar a situação local, não seria assim tão complicada se estivessem os três partidos estabelecidos em Luanda; se houvesse água, luz, meios de comunicação. Não era o caso. Angola estava em situação caótica.

Aqui vão algumas das aventuras vividas pelo diplomata brasileiro em Angola. Reunidas, suas experiências dariam um romance ao estilo Graham Greene.

Para falar com Jonas Savimbi, chefe da União Nacional para a Independência Total de Angola, a UNITA, foi preciso tomar um carro emprestado a um engenheiro português e percorrer estradas esburacadas por mais de quatro horas, até a pequena cidade de Silva Porto, na província de Huambo, no sudeste do país. Ali nascera Savimbi e ali, também, estava instalado seu quartel-general. O casal foi parado e revistado várias vezes nas ruas de Silva Porto, a caminho do hotel onde seria recebido. Depois, novamente, na sala do primeiro andar onde o encontro de poucos minutos, que nem rendeu muita troca de ideias, foi assistido por guerrilheiros armados postados ao lado de portas e janelas.

Segunda parada: Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, para um encontro previamente agendado com o chefe da Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA, Holden Roberto. Este, durante toda a reunião, falou de si, de seu poder, seus feitos, e sua importância como defensor da democracia e do Ocidente na África.

Dias depois, Ovídio Melo estava em Nairóbi. Queria marcar entrevista com Agostinho Neto em Dar El Salaan, na Tanzânia, onde o MPLA tinha escritório. Soube que o líder do Movimento iria voar bem cedo, no dia seguinte, e se dispunha a conceder a entrevista no aeroporto de Nairóbi, onde faria uma escala rápida. Mas o embaixador brasileiro andava meio cansado de conversas rápidas. Queria mais. Na mesma noite foi para Dar El Salaan disposto a voltar no avião em que Agostinho Neto embarcaria na manhã seguinte. Resultado: a conversa durou todo o trajeto entre as duas capitais africanas. E Ovídio Melo soube que aquela viagem tinha significado histórico e sentimental para Agostinho e sua comitiva. Era o fim do exílio do MPLA na Tanzânia. Depois da escala em Nairóbi todos seguiriam para Luanda, aonde chegariam em 4 de fevereiro, data do início da luta pela independência em Angola.

Por volta de um mês antes de 11 de novembro, o dia da Independência de Angola, o Embaixador conversou com o Brasil e enviou correspondência com suas observações e recomendações ao Itamaraty. Recorda que argumentou:

“Tínhamos sido respeitosos para com todos os movimentos organizados em Angola, tínhamos sido neutros em todas as lutas que presenciamos, tínhamos desejado chegar cedo a Luanda para planejar as relações futuras. Deveríamos, então, reconhecer Angola na data exata da Independência, porque estivemos sempre, e estaremos no futuro, irmanados pela língua, pela cultura, pela História."

Assim foi. No mesmo momento em que Agostinho Neto proclamava a independência em Luanda, o governo brasileiro divulgava, em Brasília, nota de reconhecimento do novo país e de seu governo.

O Embaixador Ovídio estava na sacada do Palácio quando Agostinho Neto discursou. Era o único chefe de repartições consulares a permanecer em Luanda. Não apenas testemunhou a posse do novo presidente angolano: assistiu as manifestações populares e participou das comemorações do MPLA. Dois meses depois estava de volta a Londres. Dali foi ser Embaixador na Tailândia, onde acompanhou os rescaldos da terminada guerra do Vietnam. Mas esta é outra história.

A foto, que me foi enviada pelo Embaixador Ovídio Melo, é datada de 1975. Nela aparece também a embaixatriz Ivony Melo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Gente Boa II


Nascido em Vassouras, no Rio de Janeiro, Adalberto Bello tem um sítio, a Quinta Bello, no Rio, onde passa suas temporadas de folga do trabalho. Ali, à sombra das copas das árvores que plantou, anota aventuras em pequenos blocos – rascunhos para o livro de memórias que pretende escrever no futuro. A Quinta também guarda um museu particular, com crachás, passaportes, bandeiras dos países onde esteve.

Bello tem uma enorme coleção de histórias de relacionamentos com culturas, povos, modos de vida diferentes. Em mais de 30 anos de trabalho na Odebrecht, 19 foram passados na África Austral. Depois de Moçambique, da África do Sul, de Botsuana, está em Angola há mais de uma década.

Desde 1998, quando foi enviado a Angola como responsável pelas operações da Unavem, órgão de assistência humanitária da Organização das Nações Unidas, Bello cuida de obras. É maestro de milhares de pessoas. E exigente. No seu pedaço, tudo tem de funcionar de maneira harmônica e afinada, no tempo certo e com alegria. Os que estão sob sua batuta se mostram satisfeitos. Ele é assim, também, quando se envolve em projetos sociais: distribuição de alimentos, construção de escola...

Aqui há uma história que merece ser contada. No início dos anos 2000 a paz ainda não era estável em Angola. Havia um estado de insegurança, uma multidão de gente fora de seu ambiente de origem (os chamados deslocados de guerra), sem esperança e sem absolutamente nada para fazer. Uma área anexa ao canteiro de obras de Luanda Sul, que Bello administrava, encontrava-se sem uso e foi transformada numa fazendinha. Produzia alimentos para os trabalhadores e para doações; e também servia para ensinar gente interessada em trabalhar com agropecuária.

Todos os dias, quando chegava ou saía do trabalho, Bello observava um garoto que vendia quinquilharias na rua. Vítima de paralisia infantil quando ainda era bebê, Artur Guilherme Chambeia, aos 17 anos de idade, tinha dificuldade de locomoção, não sabia ler ou escrever, e era o arrimo de uma família que vivia ao relento: três irmãs e um pai alcoolista.

Bello puxou conversa. Percebeu que Arthur era esperto e trabalhador. Contratou-o. Construiu na fazendinha uma casa com paredes de tijolos e telhado de verdade – coisa rara na Luanda daqueles tempos – para que a família pudesse se acomodar. Sete anos depois, entendido em informática e promovido na empresa, Arthur é um rapaz alto, forte, sorridente, saudável. Quem olha para ele não nota sinal do que experimentou no passado.

Bello constrói, desenha, escreve, administra, faz plantas e pessoas crescerem ao seu redor. É querido. Em 2005, começou a se sentir fraco. Numa viagem ao Brasil, descobriu que tinha pressão alta, seus rins não estavam funcionando, precisaria ser submetido a um transplante e era o 1.600º da fila de espera. Dois angolanos, além de parentes, se ofereceram como doadores. Ele recebeu um rim de seu irmão em fevereiro de 2006. A recuperação deveria ter levado um ano, mas Bello explicou aos médicos que não podia viver longe de Angola e de seu povo. Eles entenderam, e, em outubro, de rim e ânimo novo, Adalberto Bello estava de volta ao trabalho.

Foto: Holanda Cavalcanti
Parte das informações contidas neste texto está em uma reportagem publicada na revista Odebrecht Informa, disponível em http://www.odebrechtonline.com.br/materias/01601-01700/1633/

sábado, 21 de agosto de 2010

Assalto a uma biblioteca

Com uma visita marcada para uma reunião de trabalho, saí a buscar o endereço pelas ruas do centro de Luanda, em Angola. Não foi muito fácil encontrar o prédio, mas cheguei. Era noite. Portão para a rua. Buracos nas paredes. Homens conversando na calçada. Subi as escadas escuras e dei com uma porta de ferro.

Bati. O dono da casa abriu a fortaleza e eu quase rolei escadas abaixo. Três cachorros enormes, dentes pontiagudos à mostra, rosnavam e latiam descontrolados. Ele se desculpou. Tornou a fechar o bunker, prendeu os cães e me convidou para entrar.

O apartamento era no quinto andar, mas nos últimos meses tinha sido invadido duas vezes por ladrões. Para roubar comida, porque além de livros muito mais não havia. E, pobre do meu anfitrião, eu levei muitos de seus livros...