quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Brazilian hair: the best one!

África do Sul, 2009.
Mais precisamente, aeroporto de Johanesburg. Aquela largueza de espaços abertos e vidros. Aquela multidão de gente chegando e partindo de todo o canto do mundo. Estou numa escala. Horas de espera antes do embarque. Encontro um lugar estratégico, uma mesinha simpática de um café que fica bem no meio de um corredor... De um cruzamento de corredores, na verdade. Naquela ala do aeroporto, naquela posição, não há o que aconteça que fuja aos meus olhos.


O desfile é sensacional. Alguns apressados, outros contemplativos. Uns até leem enquanto andam. Há os que seguem sozinhos, mas a maioria anda em bandos, em grupos de afinidade, por assim dizer. Judeus ortodoxos rezam e balançam os corpos, voltados para uma janelona, para a pista e os aviões. Muçulmanos de turbantes e túnicas passam em silêncio. Há os japoneses de terno e gravata, portando pastas 007, e logo atrás japonesas vestidas com quimonos tradicionais, multicoloridos. Padres franciscanos com beca marrom, corda na cintura e a indefectível sandália. Budistas de branco. Indianos com suas mulheres com chales de cores fortes. Americanos de rostos vermelhos, com dois metros de altura e outros dois de largura, como jogadores de rugby vestidos para uma partida – mas os ombros são naturais. Brasileiros barulhentos – nisseis, sanseis, mulheres, homens, crianças – chegados de uma estadia de trabalho no Japão, carregados de produtos eletrônicos e loucos para voltar ao Brasil. Gente esquelética e obesa. Moços e velhos. Casais com jeito de lua de mel e outros que mal se falavam. Ah! E os Quakers! Daqueles que a gente só vê em filmes! Eles também estavam no aeroporto – um grupo de uns 30, entre homens mulheres e crianças, com trajes do século XVII! Formavam um espetáculo à parte. Todos de preto. De um lado mulheres de cabelos presos e saias longas com os filhos (muitos), de outro os homens, como que montando guarda.


Bom, eu vi muito mais naquele tempo, enquanto comia um bolinho com um copo de leite. A globalização concreta, real. As diferenças eram notáveis, mas também eram impressionantes as semelhanças. Malas? Ah, se não tivessem o nome numa etiqueta ninguém reconheceria a sua – todas pretas ou vermelhas, com rodinhas. Ou conjuntos de marcas famosas, com grife estampada, para que não restassem dúvidas sobre o poder aquisitivo do viajante. Não havia uma só pessoa sem um laptop e um aparelho de telefone celular. Uma só criança sem um videogame (exceto as da turma dos Quakers, que não tinham boneca, carrinho, brinquedo algum).


Foi então que resolvi andar, e encontrei um grupo de africanas. Todas de camiseta verde. Lindas, sorridentes, pajeadas por um homem que, em inglês, dizia a elas o que deviam fazer e não permitia que se afastassem. Entre elas, uma chamou minha atenção. Tinha um penteado muito especial. As tranças coladas na cabeça e, no alto, uma espécie de penacho, um cacho de cabelo esvoaçante. Parecia um desses pássaros raros, que quando vemos ficamos paralisados. Eu fiquei. Não resisti e fui conversar com ela. O grupo ia para uma convenção de vendedoras de produtos de beleza (por favor, não peça que eu lembre a marca...). Elas eram sul-africanas, mas se encontrariam com gente de todo o continente.


A conversa era boa, a moça era receptiva, e eu arrisquei ir além. Elogiei o penteado. Perguntei como aquilo não desmontava à noite, no travesseiro. Resposta óbvia: ela dormia de touca. E para lavar? Com muito cuidado, uma vez por semana. De quanto em quanto tempo o penteado tem de ser refeito? Uma vez por mês ela passava cinco horas no cabeleireiro. Pedi para tocar na sua cabeça. Ela deixou. O penacho era mesmo como uma pluma, macio, leve, soltinho... Qual o truque para ter aquele cabelo assim? Simples: era um aplique. “It`s made with Brazilian hair! The best one!”.


A conversa terminou ali. Eu acabara de descobrir que o Brasil exporta cabelo para a África! Podia querer mais?

5 comentários:

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  2. Vende cabelo brasileiro em Bruxelas também!

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  3. Se fosse naquele filme 2012, o aeroporto da África do Sul daria uma boa arca de Noé da humanidade. Não é Cabo da Boa Esperança, mas tá perto.

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  4. É o umbigo da globalização!!!
    o mundo passa por ali pra ir de norte a sul, de leste a oeste!
    Uma arca de Noé. Se boa, não sei...

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  5. HAHAHA!!!
    Cabelo brasileiro faz sucesso!
    isso dava matéria!
    quistória!!

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