sábado, 28 de agosto de 2010

Em busca do tempo perdido




Depois de uma semana de insistência finalmente encontramos, encolhida no chão ao canto de uma barraca de feira da Cidade do México, uma senhora de idade indefinida. Falava um idioma incompreensível – e tinha vestidos artesanais, tradicionais da região de Oaxaca.

O estado de Oaxaca é o mais pobre e, paradoxalmente, o que guarda com maior zelo os costumes e a cultura do país. Distante 470 km da capital mexicana, esconde o que existe de mais bonito do interior e do passado.

Frida Kahlo usava trajes típicos do México, composto por diversos povos e civilizações em mais de 3.000 anos de história, como forma de afirmação nacionalista. Lila Dows, outra personalidade e tanto com suas tranças, seus tambores, sua voz – e também seus vestidos e lenços – nasceu em Oaxaca.

Eu estava no México a trabalho, não tinha viagem prevista para aquela área distante, mas como fã de Frida Kahlo e Lila Downs, prometera que não sairia daquela terra sem um paninho bordado que fosse de Oaxaca. E já estava começando a achar que ficaria ali para sempre.

Voltei ao Brasil. O vestido foi encontrado – branco, com fitas vermelhas e bordados – tudo o que eu queria. Iria levar um pedacinho do México para casa. Mas comprá-lo foi uma epopeia. A vendedora não apenas não nos entendia – não fazia esforço para entender, nem sabia escrever números, o preço do produto. Penso que ela nem acreditava que alguém ignorasse a réplica mal feita de uma peça de museu – há de tudo disponível em mil e uma barracas – e fosse atraída por seu vestido de tecido cru. Pode até ter se perguntado: afinal, que turista maluca é essa?

Surgiu, então, sabe-se lá de onde, uma garota espertinha. Falava o idioma indígena da artesã e o espanhol. Mais importante: queria ajudar a senhora a vender, e negociou direitinho. A índia abriu um sorriso largo quando viu o dinheiro – e guardou no fundo do bolso do avental. Eu saí do mercado aos pulos. Vitória!

Aquela viagem fora repleta de aventuras e dificuldades.

Não entenda mal. O México é um lindo país com pessoas instruídas, politizadas, prestativas. As aventuras e dificuldades vieram do trabalho. Eu formava dupla com Luciana de Francesco, grande amiga e também grande fotógrafa. Queríamos histórias e imagens de um México que, descobrimos com o passar dos dias, praticamente já não existe. Andamos, esperamos, nos metemos por campos e cidades do interior.

Até encontramos mariachis. Mas não eram aqueles... Os originais... Menestréis andarilhos que são símbolos do patriotismo e do orgulho mexicanos. Desses praticamente não há mais. O que vimos foram grupos vestidos a caráter, de preto com fitas coloridas e chapelões, além, claro, das indefectíveis guitarras. Mas, ai! Como era árduo ouvi-los!

Entre nossos achados (nesse dia estávamos em El Fuerte, cidade perdida no mapa) houve até um conjunto que se apresentava na companhia de um Zorro fanfarrão, encarregado de fazer rir e dançar turistas – no caso, velhinhos americanos e europeus, que, é preciso admitir, curtiram cada momento.

Se não estou enganada, um humorista, ou um personagem de novela, popularizou um jargão mais ou menos assim: `Cada um cada um`.

É isso.

A reportagem resultante desta viagem foi publicada na revista Odebrecht Informa, e pode ser lida em (http://www.odebrechtonline.com.br/materias/00801-00900/883/)
Não tenho foto da índia que me fez feliz. Lamento. Publico, a título ilustrativo, uma índia retratada por F Keery para o serviço de imprensa da ONU. Fotografei Luciana, a batalhadora, no dia em que chegamos à Cidade do México, ainda sem saber o que nos aguardava, e registrando o Zorro como animador de festa de mariachis em El Fuerte.

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