terça-feira, 24 de agosto de 2010

Crise I

15 anos. Idade do meio. Não mais criança, ainda não adulto. Excesso de sonhos e projetos. Paixões muitas – pelo céu azul do inverno, pelo por do sol do outono, pela imensidão do mar, pelo mistério das matas, pela ingenuidade dos índios, pelo sofrimento dos pobres, por um mundo melhor. A cabeça a mil e o corpo também. Transformações dolorosas. Acne, excesso de peso, nariz grande demais, tudo desproporcional. E um desejo, maior que tudo, de transgredir.

No dia de meu aniversário de 15 anos fui convidada para uma reunião na casa de amigos de um amigo que haviam acabado de chegar, deslumbrados, da Bahia. Eram mais velhos. No apartamento, além de fotos, coquinhos daqueles de comer direto do colar, e bebida, muita bebida.

Não me lembro do que aconteceu ali. Em algum momento, meu bom amigo Luiz Henrique, vizinho, colega de infância, que devia me conhecer melhor do que eu a mim mesma, achou por bem me levar embora.

Tomamos um táxi limpinho, de um motorista velhinho e simpático... E eu vomitei em tudo. Acabei com o carro do homem, com a minha roupa... E ainda perdi os óculos que tinha acabado de mandar fazer, lindinhos, presente de aniversário do meu pai.

Acho que não precisava castigo maior do que a vergonha que passei. Mas meu pai não pensava assim. Os óculos que substituíram aqueles, de que eu tanto gostara, foram escolhidos a dedo, entre os mais ridículos, vagabundos e baratos que havia na prateleira.

Desde meus 15 anos, manter o controle sobre minha consciência se tornou uma obsessão.

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