domingo, 22 de agosto de 2010

Barbeiro de indio

Mães. Todos sabem como são. Conhecem tudo, decidem tudo, cuidam de tudo. Inclusive do corte de cabelo dos filhos. Mães são amigas de barbeiros e cabeleireiros. Encomendam o formato que as cabeças das crianças devem ter – e como são elas que pagam pelo serviço, claro, os profissionais obedecem.

Essa história aconteceu lá pelos anos 1960. Era uma turma de garotos, vizinhos de rua, amigos inseparáveis, todos com o cabelo escovinha, como se fossem militares. Isso num tempo de Elvis Presley, de Beatles, em que o bacana era ter cabelo comprido, ou pelo menos um topete... Mas bastava os fios atingirem mais de um centímetro e... Pimba: lá iam eles para a navalha.

Para os meninos, ir à barbearia era um suplício!

Bem, naquela rua morava um casal de velhinhos que tinha um caseiro para cuidar do jardim e de todo tipo de consertos e serviços. O homem, vindo do Amazonas, era um contador de histórias. Sempre que os velhinhos estavam longe, a garotada encostava-se ao muro da casa para ouvi-lo falar, falar, falar... E alimentar fantasias.

Um dia ele revelou que fora barbeiro no Amazonas. Os olhos dos meninos brilharam. Estava ali uma perspectiva de libertação do jugo das mães! Eles estavam prestes a ter seu próprio barbeiro, a ter os cabelos cortados conforme seu gosto!

Par ou ímpar; cara ou coroa; pedra, papel e tesoura; debate vai debate vem; chegaram a um veredicto sobre quem seria o primeiro a experimentar os dotes do manauara. A cobaia seria um dos mais rebeldes da turma, que tinha cabelos encaracolados – sempre mais difíceis de botar na linha.

Tesoura e navalha em mãos, o barbeiro postou uma cadeira em frente ao muro e colocou um pano às costas do garoto. Trabalhou por cerca de 20 minutos e lançou um olhar satisfeito para o resultado. O cliente correu para casa e, diante do espelho, quase teve uma síncope. Estava com cara de índio! O cabelo fora cortado à la Chanel, como se uma tigela tivesse sido posta em sua cabeça para servir de molde!

Nem é preciso dizer que a garotada da rua nunca mais solicitou os serviços de barbeiro do caseiro dos velhinhos. E que, no dia seguinte, o tal menino de cabelo encaracolado correu à antiga barbearia de onde saiu... Adivinhe! Com cabelo escovinha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário