segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Rainha de Copas
Definitivamente exótica. Em plenos anos 2000, a moça só vestia cópias de modelitos usados por estrelas de Hollywood do início do século XX, feitas sob encomenda, com o maior esmero, por costureiras. Bolsa combinando com o sapato, tudo na mesma cor do vestido (às vezes no mesmo tecido). E indefectíveis chapéus, com véus, flores, plumas, que permaneciam firmes na cabeça sob o sol ou a chuva, em ambientes fechados ou abertos. Seu ideal de beleza e elegância: Ingrid Bergman.
Figura impossível de ignorar. Especialmente num ambiente de trabalho uniforme, esterilizado, despersonalizado. Sua entrée foi triunfal. Silêncio absoluto. Até os aparelhos de ar condicionado e as impressoras emudeceram.
Ela desfilou impassível. Foi até sua mesa, deixou a bolsinha ao lado, bem à vista, e ligou o computador com a maior naturalidade – como a mostrar que, embora parecesse, não havia se teletransportado de tempos passados: era modernérrima.
Dois dias depois, o chefe avisou a quem de direito:
– Nem vamos falar dos vestidos. Esses podem ficar mais um pouco. Mas chapéu não. Nem pensar. Ninguém vai trabalhar aqui de chapéu na cabeça!
O recado deve ter sido dado. Nunca mais ela foi vista. Moça determinada. Ao menos foi o que se comentou...
Foi como se dissesse:
– Sem chapéu não. Nem pensar. Ninguém decide o que visto quando trabalho!
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