sábado, 14 de agosto de 2010

Amigos intimos

Pizzaria numa pequena cidade do sul da Itália. Forno a lenha, um enorme aquário ao centro, com um único peixe a nadar preguiçosamente. Cinco televisores enormes – tela plana, imagem impecável, todos ligados, cada qual num canal. O som é ensurdecedor, mas as garçonetes não parecem perceber. Têm os olhos vidrados em um filme de ação – algum dos muitos em que Rambo sangra, bate, apanha e acaba vencendo, mas com uma peculiaridade: Sylvester Stallone fala perfeitamente o italiano.

Numa mesa de canto, bem debaixo de um dos tais televisores, quatro senhores de cabelos grisalhos bebem cerveja e assistem a uma partida de futebol.
Durante mais de uma hora eles viram seus copos, comem petiscos e conversam. Falam, gesticulam, falam mais, gesticulam mais ainda. Tudo sem trocarem olhares.
Como se formassem um jogral muito bem ensaiado, em nenhum momento um interrompe ou atropela a fala do outro. Ninguém observa as mãos agitadas e expressivas de um companheiro.

Depois de uma hora e tanto, os quatro, aparentemente satisfeitíssimos, pagam a conta, despedem-se efusivamente como se tivessem experimentado um encontro íntimo, e partem. Cada qual liga seu automóvel e sai numa direção. Fim de festa.

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