domingo, 22 de agosto de 2010

Castelo de Castela

Houve um tempo, alguns hão de lembrar, em que o Pasquim publicava fotonovelas – paródias daquelas histórias melosas editadas em revistas como a antiga Capricho. Eram divertidas, às vezes surreais, críticas, criativas e sempre inovadoras.

Eu e minha amiga Adélia Manus (já falei dela em outros textos...) escrevemos um texto inspirado nessas novelas do Pasquim. Tínhamos 15 anos de idade e acampávamos numa praia deserta do litoral sul de São Paulo – Guaraú.

Adélia conta que, hoje em dia, Guaraú tem asfalto e trânsito congestionado, condomínios fechados, praia poluída, botecos com pagode todas as noites. No final dos anos 1960 não era assim. Chegar lá era uma aventura e a praia era deserta mesmo.
Fomos para lá acampar com meu pai e um tio. Acampar, entenda-se, não era como é nesses tempos modernos que vivemos. Não havia barracas leves e com isolamento térmico. Os sleepings eram acolchoados de lã forrada com tecido de algodão. Tudo era muito precário.

Os adultos dormiram nos carros. Eu e Adélia estendemos nossos sleepings na areia, ao relento, e ficamos conversando horas a fio.

A noite foi inesquecível. Talvez tenha ocorrido uma chuva de meteoros. O certo é que cansamos de contar as estrelas cadentes quando chegamos à de número 125. E nem nos demos ao trabalho de fazer pedidos – nem havia tanta coisa a pedir...

Amanheceu o dia, todos com fome, percebemos que no morro atrás da praia havia uma casa, um casarão. Escalamos a montanha e chegamos ao que era um restaurante. Um lugar sombrio, deserto, de um casal de alemães que servia carne de caça (não, nada ilegal naquele tempo...). Comemos uma maravilhosa caldeirada de paca ensopada.

O alemão era um homem enorme, de cara fechada, suspeitíssimo. Afinal, havia nazistas fugidos da Alemanha escondidos por todo canto do Brasil. Assim, o restaurante, que por alguma razão apelidamos de Castelo de Castela, se transformou no cenário da nossa novela de mistério, suspense, terror. E a personagem central, claro, era o tal alemão.

Acho que ainda guardo o texto em algum lugar, na bagunça de papeis do meu escritório. Se um dia encontrar, digitalizo e posto aqui.

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