O frio era de lascar. Estávamos nos Andes, na comuna Puica, mais ou menos 4.000 metros acima do nível do mar. A paisagem era de uma relva rala. No mais eram pedras. Seguíamos pela estrada quando vimos ao longe um garoto encolhido sobre um muro. Paramos.
Ele usava sandálias, como todos por ali. Falava pouco, mas contou que seus irmãos estavam na escola, seu pai plantava batatas (há centenas de espécies delas no Peru) e a mãe estava em casa – uma construção sem janelas, para impedir a entrada do vento. Seu nome: Nelson Ccauana Vargas.
Levávamos pão, bolachas e frutas no carro. Oferecemos a Nelson. Ele segurou e não comeu – embora fosse impossível que não tivesse fome ou vontade de experimentar...
A mãe apareceu. O menino estendeu o pão para ela, que comeu rapidinho. Demos a ele um pacote de bolachas – que também, sem demora, foram parar no estômago da mãe. Chegaram os irmãos, os primos, uma criançada alegre. Só aí o que dávamos ao menino era distribuído entre a molecada – a irmã mais velha no comando do espetáculo.
Nelson, o descobridor da mina, ficava na coxia.
Fomos embora meio compungidos. Difícil entender aquela cultura. Acabamos concluindo que a mãe é a figura principal da família, aquela que tem de ser forte, de sobreviver. É gorda, bem fornida. O pequerrucho, peso pena, se tanto.
Foto: Roberto Rosa
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