quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Antonio Ermirio e suas muitas paixões

Ícone entre o empresariado nacional, Antônio Ermírio de Moraes, um dos homens mais ricos do planeta, está no rol das personalidades brasileiras cuja biografia merece ser conhecida. Completou 82 anos em 2010. E como nos tempos de juventude, continua batendo ponto nos escritórios do Grupo Votorantim e do Hospital Beneficência Portuguesa. É turrão, exigente, perfeccionista, minucioso. Também tem uma inteligência prática e uma generosidade ímpares.


Antônio Nasceu em São Paulo, em 1928, com um único rim, mas só descobriu o defeito aos 20 anos, quando se formava engenheiro metalúrgico pela Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Antes estudou no Liceu Rio Branco, um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, aonde chegava a bordo do Oldsmobile de seu pai, José Ermírio, que então já era um empreendedor bem sucedido.


A Votorantim foi fundada em 1918 pelo avô de Antônio Ermírio. Antônio Pereira Ignácio era um sapateiro português que guardou um dinheirinho, comprou uma tecelagem falida, trabalhou nela por cinco anos e resolveu mudar de ramo. O que fez, naqueles idos, foi uma aventura e tanto. Embarcou para os Estados Unidos e empregou-se como operário em uma fábrica de óleo comestível para aprender os mistérios do negócio. Durante o dia pegava no batente como operário e ao cair da noite assumia sua personalidade menos humilde, por assim dizer: frequentava bons restaurantes e se hospedava em hotéis confortáveis. Quando achou que já sabia o suficiente, convidou os diretores da empresa para um jantar de despedida em seu hotel e, para surpresa de todos, além de se apresentar sem o macacão do dia-a-dia, ainda devolveu, fechadinhos, os envelopes que continham os salários pagos durante sua permanência na companhia.


Se esta face da história da família de Antônio Ermírio de Moraes já lhe pareceu interessante, saiba que há muito mais. Ao deixar os Estados Unidos, Antônio Pereira Ignácio foi passear em Portugal, onde conheceu José Ermírio de Moraes. Este vinha de uma família de usineiros pernambucanos. Sua mãe, viúva prematura, desdobrara-se para que José não crescesse enraizado nos canaviais. De fato, ele formou-se engenheiro de minas nos Estados Unidos, em 1916. E mais tarde veio a casar-se com Helena, filha do sapateiro que se tornou milionário. José assumiu as empresas do sogro e deu a elas um novo viço. A Votorantim ingressou pelos caminhos do cimento, da cerâmica, da metalurgia.


Assim, Antônio Ermírio nasceu em berço de ouro, mas trabalhou ao lado do pai desde garoto, e logo que terminou o curso de engenharia assumiu, na prática, a administração dos negócios da família. Sempre foi austero no trabalho como na vida pessoal. Casou-se com a primeira namorada. Reúne filhos e netos ao menos uma vez por semana. Chegou a se aventurar na política, mas descobriu que lhe faltava talento para a coisa. Também enveredou por outros caminhos inusitados – o das letras e o dos espetáculos. Escreveu peças teatrais, administrou diretores e atores, foi aplaudido e paparicado.


Um empresário prático e objetivo? Isso é pouco. Antônio Ermírio é emotivo. E quem quiser comprovar, faça uma experiência: pedir que ele fale sobre seu trabalho voluntário como administrador do Hospital Beneficência Portuguesa. Melhor, não sobre seu trabalho, mas sobre o hospital em si. É uma paixão. Entre tantas.

As informações que compõem esse texto resultam de uma série de entrevistas. Ele falou de ética e eficiência na gestão pública em reportagem de capa da revista Forum & Negocios em 2005. Há uma reportagem especial disponível em http://veja.abril.com.br/030698/p_136.html

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