domingo, 22 de agosto de 2010

Guia acidental de turistas


Este caso, como outros que aparecem aqui, foi me enviado por Adélia Manus, amiga de toda uma vida e com aventuras que esse blog está me permitindo conhecer um pouco...

Foi assim. Ela estudava na França. Tinha lá sua vida, seus afazeres, seus amigos. Um dia seu pai ligou pedindo que desse apoio a um casal em lua de mel, filhos de amigos seus, que iria passar uma temporada em Paris.

– Sabe como é, gente que nunca viajou, quer conhecer Paris... Arruma um tempinho para eles...

É preciso dizer que Adélia não é das pessoas mais pacientes do planeta, que tem o pavio curtíssimo, mas vamos lá.

Passados alguns dias o telefone tocou.

– Oi, eu sou fulana, filha de fulano, e soube que você vai ser nossa guia. Estamos no tal hotel, no Quartier Latin. A que hora você pode nos pegar?
– Bem, eu estudo, tenho coisas a fazer, mas podemos nos organizar. Digam: quanto tempo vocês vão estar em Paris? O que querem ver e fazer?

Eles queriam ver tudo: Torre Eiffel, Catedral de Notre Damme, Montmartre, lojas, cafés... Tudo mesmo.

Uma hora depois Adélia estava no hotel. A garota tinha uns 20 anos, ele já passava da casa dos 30 – e faria qualquer coisa para vê-la feliz.

A guia acidental explicou que Paris se conhece a pé e de metrô, e saíram os três a caminhar pelo Quartier Latin, à direita do rio Sena. Quatro quarteirões depois ela queria tomar um táxi. Nada feito. Pediu para tomar um café. Vontade satisfeita, entraram no Jardim de Luxemburgo, um dos parques mais bonitos de Paris, onde fica o Palácio de Médicis, construído no século XVII ao estilo florentino. É passeio sem erro para parisienses e turistas de toda a parte do mundo. Mas não para aquela recém-casada.

Então veio a primeira bomba.
– Quem é esse tal de Luxemburgo?

Adélia bem que tentou explicar:
– A construção foi feita na propriedade de François, Duque de Luxemburgo, que dali comandava seu reino... E o nome permaneceu em sua homenagem.

Logo ficou claro que o caminho era de pedra... Ali não brotava nada... Aridez total entre os neurônios da mocinha... Não sabia nada sobre os Médicis, sobre nobreza, sobre o período medieval, nada sobre nada. Abrir seus olhinhos e promover um mínimo de sinapses seria uma trabalheira sem grandes chances de sucesso.

O dia foi longo. Entre a ignorância e a indiferença, a moça foi caindo num marasmo. Ele, ao contrário, parecia animado, e sugeriu uma visita ao Palácio de Versailles para o dia seguinte. Ok. Viagem de trem.

Três dias em Paris e a moça só se lamentava. Pareceu ter se impressionado com Versailles, mas na volta o silêncio foi sepulcral. Até que, lá pelas tantas, lançou a segunda bomba:

– Todos os passeios vão ser assim?
– Assim como?
– Assim, educativos... Parece que estou num programa de viagem escolar!

Adélia não aguentou. Caiu na gargalhada. Os três desembarcaram do trem na estação de Montparnasse, a guia acidental mostrou ao casal a torre – e onde ficava a loja de departamentos – e se mandou. Virou as costas, seguiu seu caminho, e nunca mais trombou com a dupla. No dia seguinte, ligou para o pai:

– Foi o maior sucesso!!! Lua de mel perfeita!! Acho que os dois adoraram tudo!!

Afinal, como explicar o que acontecera? E para que? O pai ficou feliz, Adélia voltou à sua rotina, o casal fez seu turismo de compras livre de paradas culturais, e pronto.

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