Centenas de obras do Barroco Brasileiro estiveram expostas em Paris no final de 1999. A mostra era a primeira comemoração dos 500 anos do Brasil no exterior, integrava o calendário oficial dos festejos do ano 2000 em Paris e também o centenário do Petit Palais – parte de um conjunto monumental composto pelo Grand Palais e pela Ponte Alexandre III, construído em 1900 na zona dos Champs Élysées.
Fui convidada por um dos patrocinadores. Viajei na primeira classe, cercada de celebridades. Quando o avião pousou no aeroporto Charles De Gaulle, a comissária de bordo chamou meu nome ao microfone. Eu deveria aguardar que todos descessem antes de apear da aeronave.
Sobressalto. Haveria algum gravador suspeito na minha bagagem? Será que eu cometera alguma gafe? Nada disso. Meus anfitriões, gentilíssimos, providenciaram não apenas carro com motorista para me levar ao hotel. Cuidaram, também, para que eu não tivesse de ficar na fila, passar por verificação de passaporte, aguardar na esteira de bagagem, enfrentar o controle alfandegário e toda aquela chateação a que os mortais comuns (eu, inclusive) estão habituados.
A comissária postou-se ao meu lado e me convidou a segui-la. Foi então que senti as pernas de um carrapato grudadas na minha pele, sugando meu sangue. Olhei por cima do ombro e vi uma badaladíssima socialite paulista, curadora de museu, ávida por tomar carona na mordomia que me era oferecida. Em segundos ela me tratava como amiga de infância. Sem problemas. A comissária percebeu a situação, disse algumas palavras no rádio e pronto. Demos a volta na multidão, passamos por uma porta de vidro, entramos numa sala onde as malas nos aguardavam, e fomos cada uma para um lado.
A estadia durou uma semana. Um dia, passeando distraída perto da Torre Eiffel, senti alguém tocar meu ombro. Era o carrapato. Perguntou se eu tinha ido a muitos museus, visto muitas exposições. Expliquei que não, que não suporto filas, que sempre que fui a Paris me recusei a subir ao topo da Torre Eiffel ou a visitar o Museu do Louvre: prefiro andar pelas ruas, observar pessoas...
Ela riu.
– Que boba! Como jornalista você fura qualquer fila! Pois eu, como curadora, furo fila e nem pago ingresso! Já estive no Museu d'Orsay, no Centre Georges Pompidou, no Museu Rodin... E ainda pretendo ir a muitos mais!
Eu, hem? Dei a ela os parabéns pelas suas façanhas e me mandei rapidinho. Rica, cara de pau, petulante e oportunista! To fora!
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