Aos 30 anos, por alguma razão inexplicável, já que a expectativa de vida do brasileiro anda pela casa dos 80, a gente tem a sensação de ter atingido metade do tempo que temos disponível. A contabilidade é cruel, porque afinal, até os 15 ou um pouco mais, não decidimos sobre nosso destino. Mas o balanço entre o que foi feito e o que se sonhou, planejou, desejou realizar, sempre fica no vermelho.
Erros, arrependimentos, enganos, privações, prejuízos, perdas de oportunidades... Tudo isso pesa num lado da balança – e quando se pensa em maneiras de arranjar o que saiu errado, de retornar à estação e tomar o trem que passou – a resposta é um não bem redondo. Não há como.
Tempo não tem volta. A vida só se vive uma vez. O que passou, passou... Sabedoria popular é de arrasar.
A crise dos 30 é o momento em que a ficha cai. É preciso olhar pra frente. Escapar da dor e da frustração. Tentar construir algo melhor.
Aí entra em cena o outro prato da balança, onde se põe as intenções mais acalentadas e nutridas para a outra metade da vida, o tempo que resta, por assim dizer.
Não há crise mais solitária. Mais desesperada. Uma tempestade emocional.
Eu tive impulsos de romper com tudo, de sair de mochileira pelo mundo, como a hippie que talvez devesse ter sido quando garota. Conversava com o ascensorista sobre filosofia, enquanto o elevador subia para o escritório onde eu trabalhava (nem preciso dizer que ele não entendia patavina). Fazia reuniões com mulheres que passavam por fases semelhantes.
O clímax aconteceu numa barbearia de subúrbio, onde levava meus filhos para cortar o cabelo. Eu tinha cabelos longos, à cintura. Pedi que o senhorzinho acabasse com eles, passasse máquina 2. Saí dali careca. Em casa, me olhei no espelho e chorei horas seguidas.
Dias depois, furei as orelhas e passei a usar brincos. Tudo doía, mas havia algo novo começando.
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