sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A intrigante saga de Lily

Os holofotes iluminaram Lily Safra, a biliardária brasileira que, segundo a revista Forbes, é dona de 1,3 bilhão de dólares, com a publicação do livro `Gilded Lily` (Lily Dourada), uma biografia escrita pela premiada jornalista americana Isabel Vincent, do New York Post. Em 2010 ela ocupou o noticiário por doações que fez a hospitais e instituições de pesquisa, por aquisições e vendas de obras de arte, e também por sua amizade crescente com a nobreza da Inglaterra, em especial com o príncipe Charles e sua esposa Camila. Seu nome figura em jornais e revistas internacionais há décadas. Entretanto, pouca gente conhece Lily. Especialmente no Brasil, onde ela só ganhou algum destaque quando assumiu o sobrenome Safra, de uma das mais bem sucedidas famílias de banqueiros do país. Edmond Safra foi seu quarto marido e teve morte trágica.


Pois bem, essa estrela do jet-set global nasceu em 1938 no Rio Grande do Sul, filha de judeus (o pai escocês e a mãe checa) que migraram para o Brasil no início do século XX. Seu sobrenome de solteira era Watkins. Os pais tinham projetos grandiosos para Lily, que desde criança se mostrava graciosa e esperta. Assim, mesmo a custo de sacrifícios da família, a herdeira dos Watkins vestia-se com apuro, frequentava festas requintadas e tomava aulas e inglês e francês. Desenvolta, parecia não ter dificuldades em despertar paixões. 

Aos 19 anos conheceu Mario Cohen, um argentino milionário fabricante de meias de náilon, e casou-se logo em seguida. Os dois moraram no Brasil, no Uruguai e na Argentina e tiveram três filhos: Adriana, Eduardo e Cláudio. Mas o casamento não durou muito. Uma noite, Lily Watkins Cohen foi apresentada a um empresário alegre e conversador, o dono das lojas Ponto Frio Alfredo Monteverde. Os dois estiveram juntos por boa parte da festa, no Rio de Janeiro. Resultado: Monteverde se apaixonou. 

Lily não levou muito tempo para tomar uma decisão. Em 1965 deixou o marido, providenciou nova festa de casamento e passou a se chamar Lily Watkins Cohen Monteverde. Ingressou com o pé direito na seleta sociedade carioca. Os amigos tinham a impressão de que os Monteverde formavam um casal feliz. Entretanto, em 1969, Alfredo foi encontrado morto em sua casa, com um tiro no tórax. A conclusão da polícia: suicídio.

A viúva partiu para Londres, e buscou um administrador profissional que lhe proporcionasse vida tranquila com os rendimentos de seu polpudo patrimônio. Assim conheceu Edmond Safra, banqueiro de renome internacional muitíssimo bem sucedido. Judeu sefardi ortodoxo de origem libanesa, Edmond era fanático por trabalho, pouco afeito ao convívio social. Um quarentão solteiro convicto. Mas encantou-se por Lily e os dois namoraram por alguns meses.

A novidade enfrentou oposição. Lily é judia, mas liberal, de origem asquenaze. Sozinha, logo encontrou outro pretendente: em 1972 casou-se com o empresário inglês Samuel Bendahan. O relacionamento durou um ano e terminou num divórcio litigioso. Edmond Safra, ainda encantado, voltou a vê-la. Em 1976 os dois trocaram alianças. A senhora Lily Watkins Cohen Monteverde Bendahan Safra tornou-se investidora em imóveis e encheu casas e apartamentos com obras de arte e antiguidades.

O casamento se manteve por 23 anos. Em 1999, aos 68 anos de idade e vítima de Mal de Parkinson, doença degenerativa do cérebro, Edmond Safra morreu asfixiado num incêndio criminoso em seu apartamento dúplex com vista para o Mar Mediterrâneo em Monte Carlo, no principado de Mônaco. Lily sepultou-o em Genebra.
Nos meses seguintes, doou 2 milhões de dólares para a construção de uma fonte luminosa em Londres, em homenagem ao ex-marido. Deu 30 milhões de dólares para a reforma do campus de uma universidade israelita. Comprou um casarão em Londres e apartamentos em Nova York e Paris (com vista para a Torre Eiffel).

Vendeu o apartamento de Mônaco e, num leilão promovido pela Sotheby’s, 800 peças de sua coleção de antiguidades e obras de arte. Mas conservou a Villa Leopolda, na Riviera Francesa, avaliada em cerca de 400 milhões de euros. Construída no estilo belle époque em 1902 pelo rei Leopoldo II da Bélgica, a Villa ocupa um terreno de 80 mil metros quadrados e tem vista privilegiada para o balneário Saint-Jean-Cap-Ferrat. Ali, na temporada de verão, Lily promoveu uma festa para amigos europeus e norte-americanos.

No início do ano 2000, cinco meses após a morte de Edmond, ela frequentava festas no Palácio de Buckingham e no Metropolitan Opera House em Manhatan. Também compareceu ao aniversário de uma amiga, a socialyte texana Lynn Wyatt - uma comemoração com motivos tropicais realizada no sul da França. E foi um dos 115 convidados de uma maratona festiva entre Londres e Veneza patrocinada pelo compositor Elton John. Para coroar a movimentação, arrematou a escultura L'Homme qui marche, de Alberto Giacometti – a obra de arte mais cara já vendida em leilão até então – por 103 milhões de dólares.
O reingresso triunfal de Lily Watkins Cohen Monteverde Bendahan Safra no universo da altíssima sociedade, entretanto, ocorreu após o final do processo acerca da morte de Edmond Safra. Para comemorar o evento, ela convidou 60 pessoas (entre elas a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, o então prefeito de Nova York Michael Bloomberg e a princesa Firyal da Jordania) para um jantar em um de seus apartamentos na Quinta Avenida, diante do Central Park, em Nova York – que os decoradores transformaram num jardim francês forrado de pétalas de rosas e repleto de árvores carregadas de frutas.
Onde vive Lily hoje, com quase 80 anos de idade? Entre as suas residências em Londres, Nova York, Paris e Genebra.
Os ingleses Christian e Nick Candy, que compraram o apartamento de Mônaco de Lily por menos de R$ 25 milhões, logo após a morte de Edmond Safra, reformaram o imóvel de 1.600 metros quadrados e venderam-no a um investidor do Oriente Médio que não foi identificado, pelo equivalente a 526 milhões de reais.

No Brasil ela apareceu no noticiário ao assinar um contrato com o neurocientista Miguel Nicolelis pelo qual, em troca de uma doação de valor não divulgado, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal passou a se chamar Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra.

As 445 lojas da rede Ponto Fril foram vendidas em 2013 ao Grupo Pão de Açúcar, numa operação que envolveu também as Casas Bahia.





A foto da biblioteca reformada do apartamento de Mônaco está em http://lhmarketingdeluxe.blogspot.com. A imagem da Villa La Leopolda foi retirada do site business.rediff.com - em que é citada como um dos imóveis mais valorizados do planeta.

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