Foi numa ronda, numa noite escura, que os policiais tropeçaram num embrulho encostado na parede de uma casa em ruínas na periferia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Um bebê imóvel, calado, minúsculo.
Dali ele foi levado a uma casa da Febem – instalação pequena, com boa estrutura, cozinheira, faxineira, enfermeiras, cuidadoras... E seis bercinhos ocupados por bebês sorridentes e agitadíssimos.
Já no dia seguinte o garoto foi ao pediatra. Ao neurologista. Ao oftalmo. A uma maratona de exames. Estava desidratado, sim, mas a saúde física era boa – exceto pelo fato de que ele tinha idade estimada de seis meses e tamanho de recém-nascido. Não chorava, não mamava, não sorria – e não crescia. O diagnóstico: faltavam a ele carinho e amor, vontade de viver.
Bem, a mulherada se digladiou e acabou montando uma grade de horários para que cada uma pudesse segurar o menino no colo, brincar com ele, acariciá-lo e alimentá-lo por um tempinho. Quando estive ali, isso acontecia havia dois meses. Sem progressos. Pior. O garoto não podia ser oferecido à adoção, porque a polícia não localizara sua mãe, que oficialmente tinha poder sobre ele.
Nesta mesma casa da Febem fiquei sabendo de outra história. De uma menininha deixada para adoção por uma moça que, logo em seguida, morreu vítima de Aids. A menina também era portadora do vírus HIV. Tinha dois anos de idade. Uma enfermeira encantou-se com ela. Por um ano lutou nos tribunais, até conseguir adotá-la. Mais um ano se passou. A garota foi submetida a exames e... Estava negativada, com a doença sob controle!
A enfermeira era uma das tantas que lutava para ficar com a guarda do menininho triste, que não crescia. E que veio a falecer antes de completar um aninho. Velho e cansado da vida.
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