terça-feira, 7 de setembro de 2010

Olhar 45

Ele judeu húngaro imigrado no pós-guerra, vendedor de brindes. Ela presbiteriana, professora na rede pública do estado. Conheceram-se num ponto de ônibus, em tarde de chuva. Namoraram contra a vontade das famílias. Casaram sem renda que garantisse confortos mínimos. Logo tiveram filhos – dois, um após o outro. Moravam num apartamento minúsculo, as crianças sem espaço para brincar.

Ela deixou a roupa limpa sobre a cama para passar quando voltasse da escola. Ao chegar, deu com os garotos às gargalhadas, pulando no colchão e nas roupas com os pezinhos imundos.

Olhar fulminante. Parada geral.

Hoje os filhos são quatro. Os netos, sete. Todo o conforto. Mas ela não esquece aquele dia – a dor, o sofrimento, o desespero... E a veemência com que encarou os moleques, afinal tão divertidos, inocentes e ignorantes a respeito das dificuldades da família.

Olhar 45, bala de prata.

Alguém canta um verso assim, não?

2 comentários:

  1. Fantástica história!!!
    Que delícia... As mulheres da nossa família são o máximo!

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  2. Hehe!
    Muuitas histórias pra contar!
    Sempre penso que não terei tempo, habilidade, memória pra tudo...

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