quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nada manso

Os paulistas com mais de 50 anos certamente lembram-se do chá da tarde e dos elevadores do prédio do Mappin, plantado na Praça Ramos de Azevedo, diante do Teatro Municipal. Assim como da loja de chapéus Ramenzoni, não muito longe dali. Ou mesmo da Mesbla, que embora tivesse sede no Rio de Janeiro também fez muito sucesso em São Paulo. 

Pois tudo isso desapareceu por obra e arte de um único personagem: Ricardo Mansur. Ele foi retirado da escola aos 19 anos de idade, quando a loja de tecidos de seus pais libaneses foi à falência. Recebeu algum dinheiro para tomar as rédeas de sua vida e abriu uma papelaria, mas não era muito de bater ponto, cuidar de estoque, lidar com contabilidade. Frequentava a turma do Colégio Dante Alighieri e, embora não fosse rico, desfilava num Ford Fairlane importado e fazia sucesso. 

Tornou-se um magnata precoce devido a uma habilidade – sabia comprar empresas cujos donos estavam loucos para se livrar delas, e vendê-las com lucro. Foi assim com as tradicionais lojas de departamento Mesbla e Mappin, e com os chapéus Ramenzoni. Mas estas não foram suas únicas tacadas. Foi dono da Vigor: comprou no longo prazo, nomeou seu irmão como administrador, e saldou os pagamentos com os rendimentos proporcionados pelo negócio. Também arrematou a Leco, outra fábrica de laticínios que acumulava dívidas e brigas entre os sucessores da família proprietária.

Em 1990 fez uma jogada um pouco diferente. Investiu 16 milhões de dólares na montagem de trinta lojas da Pizza Hut, franqueadas da Pepsi Cola. Como as pizzarias fizeram sucesso rapidamente, a Pepsi quis reavê-las. Pagou 30 milhões de dólares e deu a Mansur um lucro de 14 milhões de dólares em pouco mais de dois anos.

Praticante de pólo, ele garante que já disputou uma partida com o príncipe Charles, da Inglaterra – país dos seus sonhos. Seu guarda roupa, bem como os objetos de decoração de seus escritórios e residências, têm etiquetas britânicas. Em geral com estampas de cavalos. 

Grandalhão, Mansur não tem nada de discreto. Suas mãos são como aquelas espátulas de forno de pizzaria. Os cabelos ralos são cuidadosamente colados à cabeça. E as cores dos trajes são combinadas com esmero. Não. Não é exatamente um dandy. Na Hípica Paulista é bastante lembrado o dia em que, depois de uma partida de polo, houve um desentendimento entre Mansur e Arnaldo Diniz (irmão mais novo da família que detinha o controle do grupo Pão de Açúcar), que jogavam em times opostos. Pouco depois os dois se encontraram num restaurante e Mansur quebrou uma garrafa de água mineral na cabeça do adversário. 

De volta aos negócios. Mesbla e Mappin faliram. O Banco Central liquidou o banco de Mansur, o Crefisul. Todos os seus negócios estavam quebrados, mas seu patrimônio pessoal era estimado em meio bilhão de dólares. Mansur era dono de mansões em Londres, no bairro do Morumbi, em São Paulo, e em Indaiatuba, no interior paulista – quase idênticas, em estilo neoclássico. Tudo estava em nome da esposa e dos três filhos quando, acusado de crime contra o sistema financeiro, ele foi preso por 51 dias. Solto, não foi visto no Brasil por vários anos.

Não pense que a novela para por aí. Corriam processos e mais processos na Justiça, e a polícia se mobilizava para localizar os dinheiros de Mansur no Brasil e no exterior, mas ele voltou. Em agosto de 2009, a família Balbo, proprietária da Usina Galo Bravo, de Ribeirão Preto, entregou-lhe seu negócio para que ele conseguisse recursos e saldasse uma dívida estimada em 450 milhões de reais. Pois onze meses depois, ao ser afastado do controle da usina, Mansur deixou uma dívida bem maior: de 2,5 bilhões de reais. Na mesma época, comprou uma destilaria no interior de São Paulo e a Faculdade Batista de Vitória, no Espírito Santo. Tudo foi restituído aos antigos donos e o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu o bloqueio dos bens de Mansur e de seus familiares.

Antes que essa figura da história empresarial brasileira dê seu próximo bote, o que se sabe é que a rede de lojas Marabraz  adquiriu os direitos sobre a marca Mappin, em leilão público, pela bagatela de 5 milhões de reais, menos da metade do valor estabelecido pela Justiça, pois não havia outros interessados no nome. Nem mesmo Mansur, o bravo, apareceu no leilão.


Há notícias, artigos e reportagens sobre Ricardo Mansur e suas atividades, entre outros, nos seguintes sites: http://www.estadao.com.br, http://epoca.globo.com, http://www.istoedinheiro.com.br, http://veja.abril.com.br, http://oglobo.globo.com.

Nenhum comentário:

Postar um comentário