quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Visita a um boneco de cera

Quem, tendo vivido a revolução cultural dos anos 1960, e estando em Moscou, não enfrentaria a fila que fosse para ver o corpo do líder revolucionário Vladimir Ilitch Ulianov, o Lênin, fundador do Estado Soviético, na Praça Vermelha?


Pois é. Odeio filas, mas queria ver não apenas o Mausoléu de Lênin: estava curiosa para passar pelo túmulo de John Reed, jornalista cujo livro “Dez Dias que Abalaram o Mundo” eu lera e relera. Acordei cedo, tirei meus filhos da cama, e fomos buscar um lugar na multidão que se acotovelava para fazer o passeio.


Entramos na construção de granito e mármore. Passamos por revista – o que é rotina na Rússia, onde quer que se vá. E finalmente pusemos os pés num salão frio, úmido, escuro, com uma caixa de vidro ao centro, e, dentro, o corpo de Lênin. Ou um boneco de cera.


Tudo era muito irreal. Nossos olhos não se acostumavam facilmente àquela luminosidade, os guardas faziam com que a fila andasse rápido demais para uma observação cuidadosa, e aquele corpo, embalsamado em 1924 e tantas vezes retocado e maquiado, provocava menos sensações do que uma estátua numa praça qualquer... Uma decepção. Assim como a placa no túmulo de John Reed, num cemitério colado ao muro do Kremlin onde estão também os restos de Yuri Gagarin e Maximo Gorki – para ficar em nomes que não causam desconforto.


À saída, concluímos que estávamos interessados em história – mas em nada de insalubre.

Todos conhecem a cara do Kremlin, e é proibido fotografar no interior do Mausoléu de Lênin - o que nos interessaria aqui. Este texto, portanto, fica sem ilustração.

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