sexta-feira, 22 de maio de 2015

Mar de gelatina

O barco balançava tanto que as pessoas dentro dele mal conseguiam se segurar. Eram jogadas umas contra as outras, contra bancos, paredes. Machucavam-se.
Alguns se deitavam no fundo da embarcação na esperança de que nessa posição fosse mais fácil sobreviver.

Estar no mar é uma aventura. Imprevisível. Quando não se enxerga terra de lado algum, uma insegurança leva a gente a engasgar. Se o mar estiver cinza chumbo, então, pior. Se a chuva despencar do céu, pior ainda.
Num grande navio, como esses de cruzeiro, o pavor existe. Mas as pessoas se distraem para não pensar no monstro que desafiam. Vive-se, nesses navios, uma festa permanente. Mesmo que chova canivete.
Num barco de pesca como esses que transportam pessoas - chamadas de imigrantes ilegais - pelo mar Mediterrâneo, todo minuto é um pesadelo.
O mar é de gelatina. O barco não deslancha. Dentro de cada uma dessas embarcações, vidas por um fio se abandonam. Entregam-se ao azar.

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