sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Nunca mais

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.» 
E abri largos, franquendo-os, meus umbrais. 
Noite, noite e nada mais. 
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. 
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais.
Disse o corvo, «Nunca mais».
….
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... Nunca mais!

Edgar Alan Poe

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